quinta-feira, 28 de abril de 2011

Medo

Estou com uma idéia fixa de escrever este texto. Não é um saudosismo piegas, é que eu estou apavorada. Tudo hoje é construido em cima da pressa, do não perder tempo.

Há alguns dias conversando com uma amiga questionavamos sobre a sobrinha dela ir para uma escolinha que propagandeia como algo bom ter aulas de expressão corporal quando ela completar um ano. A pergunta que não quer calar é: o que uma criança nessa idade tem pra se expressar? A resposta bem sabemos, mas os pais da criança optaram pela propaganda.

Ontem e hoje escutei Nana Caymmi na volta do trabalho, entre outras coisas ela comentava dos seus casamentos, da importância deles para sua vida pessoal e artística. Hoje as pessoas não se casam, elas ficam, namoram um tempo, se juntam, brigam e se separam. Mas na maioria das vezes elas não passam do primeiro estágio. Não que eu defenda a farsa do casamento, o problema é que todos estamos afoitos para ter alguém ao lado, e cada vez mais queimamos etapas sem nos darmos tempo para se apaixonar objetivando o amor. O pior disso tudo é que junto com as etapas queimamos fletes, poemas, e todas aquelas coisas que renderam belissímas músicas, quadros, livros...

As notícias chegam muito rápido e muitas vezes nem dá tempo de sabermos o que pensamos sobre elas, mas basta clicar no "curti" que você já compartilha aquela idéia, ou aquele fato.

O olhar, o sorriso e o mistério foram simplificados por uma mera pesquisa no álbum, nos recados, nos comentários.

Os livros chegam através de aplicativos com citações isoladas falseando a intelectualidade alheia.

É como se precisassemos de vida pois sabemos que não viveremos muito, mas de fato nem sabemos disso porque é perda de tempo pensar. Eu tive medo porque eu pensei.

Nossas alegrias e tristezas particulares pseudamente compartilhadas, nossas fotos premeditadamente espontaneas, porque temos pressa de ser felizes por estarmos demasiadamente tristes.

Acho que é isso. Agora estou mais aliviada. O problema era parar pra escrever aqui até admiti que o mundo de hoje está me ensinando como se faz pra viver uma vida repleta de nada, ao menos nada tão real assim.
Parece triste, né? E é.

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