segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Resíduo

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
― vazio ― de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Agora aprendi...

Bem, sei que é meio ridículo aos 23 anos descobri para que servem os poemas... servem como curriculo para admissão nos corações alheios. Um dia você pode apresentar pra determinado patrão, noutro para outro patrão... Assim segue, segue a sequidão dos dias. Ninguém nunca vai saber o que há por trás das palavras. Agora meu grande anceio é fazer um poema generico de amor para conquistar corações alheios, afinal, sofrer, amar, viver dá muito trabalho.
Tudo isso por saber que por entre os lábios dele saem as mesmas palavras que eram minhas, só que agora são para a outra.
Eu só queria Viver!

sábado, 5 de setembro de 2009

em minúsculas

Ando Só
Engenheiros do Hawaii
Composição: Humberto Gessinger

ando só
pois só eu sei
pra onde ir
por onde andei
ando só
nem sei por que
não me pergunte
o que eu não sei

pergunte ao pó
desça o porão
siga aquele carro
ou as pegadas que eu deixei
pergunte ao pó
por onde andei
há um mapa dos meus passos
nos pedaços que eu deixei

desate o nó
que te prendeu
a uma pessoa que nunca te mereceu
desate o nó
que nos uniu
num desatino
um desafio

ando só
como um pássaro voando
ando só
como se voasse em bando
ando só
pois só eu sei andar
sem saber até quando
ando só

Um nada

Tenho que escrever, pra lembrar quando sentir aquelas malditas borboletas no estômago, lembrar que eu vou me lascar mais uma vez. Não adianta vir com nhén nhén nhén de "vamos tentar", "vamos viver essa história", "gosto de você" e blá blá blá... A verdade é que desde o princípio o interesse é carnal. Não que isso seja ruim, adoro uma carne também, mas o problema é que é só isso. Definitivamente o que me separa dos outros animais é a minha capacidade de sentir. Viver pra procriar é pouco pra mim. Eu quero viver. Até hoje não encontrei ninguém que pensasse igual a mim. Mas as amaldiçoadas borboletas insistem em brotar do nada, e eu fico na ilusão que "ó, encontrei ele", mas no fundo eu sei que ainda não é dessa vez. Essa hora nunca vai chegar, acho que nasci fora do tempo ou devo ser maluca.
Tudo está tão cinza agora. Cair não é fácil. E meu ventre insiste em doer...

O fogo ilumina muito por muito pouco tempo
Em muito pouco tempo, o fogo apaga tudo.
Tudo um dia vira luz.
Toda vez que falta luz
O invisível nos salta aos olhos.

Cólica

Meu ventre reclama,
a dor não é o pior.
Silêncio deliberado,
o fim, a tristeza,
a angústica, o mal humor,
as coisas que sempre se findam.
Eu acreditei que era verdadeiro,
nem verdade era,
pensei ser o derradeiro,
nem princípio era.
Hoje não penso nada,
minhas condições não deixam,
parár significa morrer,
seguir significa isolar.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Meu problema é gostar de Geraldo Azevedo...

Talvez Seja Real
Geraldo Azevedo
Composição: Geraldo Azevedo / Fausto Nilo

Parte de mim que faltava
Tanto eu esperava
Te ver
Olhando o tempo
Eu e você
O impossível
Vamos viver
Ilusão
Eu duvido
Talvez seja real
Chegou
Por quanto tempo
Amanheceu
O impossível
Não é pecado
Tire os olhos da parede
Abra a janela do quarto
Como a laranja e a sede
A gente ainda quer se encontrar
Como a laranja e a sede
Abra a janela do quarto
Tire os olhos da parede
E essa parte de mim separada
Talvez seja real
Chegou
Por quanto tempo
Amanheceu

Mais fragmentos de Mandarina...

Mandarina oscilava entre pensar no seu novo lar e na política a ser tirada para tal estratégia. De fato não fez corretamente nenhuma das duas coisas. Cansada, só queria sair do meio dos seus afazeres. Chega alguém para lhe tirar deles. O flerte não dura muito tempo, só o suficiente para saber que ainda tinha hormônios e escrever entre quatro paredes:

A fumaça de meu cigarro dura mais tempo que tua presença. E assim se segue em passos. Primeiro a vontade, depois o ascender o cigarro, o primeiro trago, o gozo, a calma, a fumaça, o fim. Deveras és mais ágil, do gozo fostes direto ao final, sem que eu percebe-se que em mim morre tua imagem.
De fato não havia nada a lhe oferecer, meu mal humor diário, meus poemas empoeirados de rancor, minha alma senil e a distância. Não sou um brinquedo tão interativo, na verdade nunca me dei bem assumindo o papel de brinquedo.

...Tenho ciúme das pessoas que te conhecem, por que eu não pude te conhecer.


O Ciúme
Geraldo Azevedo
Composição: Caetano Veloso

Dorme o sol à flor do chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, pernambuco, rio, bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme
O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta
Quem nem alegre nem triste nem poeta
Entre petrolina e juazeiro canta
Velho chico vens de minas
De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei que o levas todo em ti, não me ensinas
E eu sou só, eu só, eu só, eu
Juazeiro, nem te lembras dessa tarde
Petrolina, nem chegaste a perceber
Mas, na voz que canta tudo ainda arde
Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê
Tanta gente canta, tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Instantes

De certo deserto,
cargas d'aguas como é tão exata,
tão arenosa minha solidão?
Não peço água, sou completa!
Mudam meus montes,
pois o vento é minha direção.
Despenca a noite...
Errada hora, certo dia!
Uma estrela a mais que o esperado,
teu riso me ronda,
é a sequidão iluminada...
constrastes num céu nublado.
Ora, criatura!
Que invenção é essa?
Destes pra achar bonito meu inferno,
Párar com teu poema os rumos do vento que me cerca!
Tão grande foi tua caminhada,
ancioso por um silêncio,
o segundo que não se consegue evitar...
Toca-me, nem minha aridez te assusta mais.
Ensurdece-me de tua música,
é tudo que quero escutar!
Embriaga-me de tua saliva,
ébria razão de viver!
Depois vai embora...
Amanheceu!
e tudo que rima com isso...
você me...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Qual é o motivo da dor...

dói, dói muito, e doeria meis se se estivesse sozinha. Mas se estou sozinha, qual o limite desse nó na garganta? Não sei, cada dor parece ser a última e a pior. Contudo vem sempre outra para superar. Talvez a solidão dos dias me levem à força, ou até a mais profunda tristeza mesmo.
E o pior de tudo é que eu sei toda a verdade, absolutamente tudo o que eu preciso saber para entender que a trajetória será injusta e só.

Dessa vez, sem Mandarina... Apenas Talita Kumy

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ilhas




Tão cinza quanto nosso passado
Tão pesado quando a nossa distância
Tão isolados!

Passados

Volto a falar besteiras
Empunhar cigarros
Beber sem copo
Me desperdiçar.
A fantasia adorna a tristeza fria
De uma pele quase morta,
Ou quase viva.
Flerto contigo.
Oscilo.
Não vejo a linha tênue
Aquilo que separa a verdade do ridículo,
O ósculo e o escarro.
A cegueira, a embriagues, o sepulcro das palavras
Minhas mentiras são aparatos para algo viver
Vive, dança, canta, respira lembranças.

As pálpebras me levam ao claro
Aromas invadem
Adentro teus aposentos
Nervos, desejos, afagos.
Rimas labiais sedutoras,
Meu corpo e sua razão
O toque.
Edredom rubro sobre tua pele alva.
Contrastes.
A posse de um único instante,
Em mim o poço, em ti um copo d’água.
O encaixe.
Um tom de loucura na paisagem,
Minha nudez, teus olhos, nosso céu.
A dança.
O gosto aguçado que o paladar não descreve.
E tudo se finda.

Erguem-se as pálpebras
A escuridão retorna sem dó.
Um mundo inodor, insípido, incolor.
Não há sua estupidez.
Acesso tua cordialidade inexistente.
És visceral, mas restaram-me as convenções.
Amanheço degustando a paciência,
Viro à esquina , à esquerda,
Misturo pavor e vontade,
Quero ser minha própria fantasia,
Acabo por virar realidade.

Inacabado

Ela: (Num vácuo de sensações exclama) Monocromática vida minha!
Ele replica:
Nada é monocromático. Nada!
Se de tuas paixões há escassez de cor
Entre teus dedos estão os tons.
Não podes negar tuas nuances,
Tuas curvas sem arestas...
Nem eu o teu passado.

Teu ímpar degradê castanho,
Que faz a visão deslizar
Estancando ao raiar do teu riso.
O súbito desejo da alva pele,
Da face arredondada e terna,
Da tatuagem liberta e do sinal que aprisiona.
Reflito (me) dentro do teu olhar
Sempre escondido e escancarado.
Como se não bastassem
Como se fossem poucas as combinações,
Tuas cores ousam dançar.
Entontece o sacolejo de tuas ancas,
Negra saia cobre pernas coloridas do teu bailado.


Procurei cores pra trazer-te,
Agora que achei, seguem-se as pinturas...
Mortas!
Apenas tu és misto de cores vivas.
Eu, apenas o contemplador de tua ternura.

Ela: (entra num luxo radioso de sensações)

Cotidiano da fuga

Vasculhando rastros de minha propriedade
Encontro partidas, queimas noturnas.
A porta da lembrança escancarada,
O desejo que outrora me movia
Hoje esconde-se acovardada em algum cômodo...
Calo! Sem a beleza da rosa do povo,
Ou a frieza da boca escarrada.
Calo!
Esqueço!
Vasculho!
Escondo!
Saio!

Poderia ter acontecido...

Nelson Rodrigues e Maysa se encontram...

Ele: Minha cara, todo o desejo é vil. Hoje é muito difícil não ser canalha.
Ela: Tu me desejaste e agora meu mundo caiu, e me fez ficar assim!
Ele: Vendo-te assim, penso que a misericórdia também corrompe, e de certo modo, me corrompi.
Ela: Você conseguiu, e agora diz que tem pena de mim.
Ele: Consegui, até porque o dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro!
Ela: Não sei se me explico bem, eu nada pedi, nem a você, nem a ninguém!
Ele: Bem, como todo brasileiro, se não fui canalha na véspera, serei canalha no dia seguinte!(risos sarcásticos)
Ela: Não fui eu que caí?
Ele: De fato, entretanto não existe família sem adúltera! Mentiria menos se poucas fossem as perguntas!
Ela: Sei que você me entendeu! Sei que também não vai se importar!Se meu mundo caiu, eu que aprenda a levantar!
Ele: Ser devorada por seus próprios escrúpulos, esse será seu fim.

Humanizando a vida em tempos neoliberais

Escrevi esse texto em 2007, quando perdi a matéria de clínica. Em 2008, tive aula prática com outro paciente terminal. Certas coisas não mudam de um ano para o outro, mas eu mudei e hoje estudo a concepção de saúde das pessoas que permitem esse tipo de prática, tentando transformar o mundo. Além disso estou na linha de frente em defesa dos Hospitais Universitários. Não é um campo muito bom para militância, mas de outro jeito a vida não vale a pena...


Maceió, 06 de abril de 2007.

Eu poderia escrever mais um daqueles textos de livro de auto-ajuda, contando uma história triste para que supostamente as pessoas despertem e vejam “como a vida é linda para mim, e que existe gente pior que eu”. Esse é o caminho mais fácil, mas é de pseudo-facilidades que se perde a vida. Essa semana tive aula prática no hospital universitário, foi o segundo caso clínico que meu grupo encarregou-se de estudar. Tratava-se de uma jovem com 17 anos que atendia pelo nome de Shirllein. E o que era pra ser mais um momento do meu dia tornou-se um freio para as horas, não um divisor de águas, mas um inesquecível momento de contemplação. Eram os olhos mais vivos e belos que já me deparei, saltavam de um rosto enigmático e simples, como se qualquer palavra se rendesse ao império daquela beleza. Os lábios naquele rosto eram de uma firmeza inquestionável, e ainda quando abriam alas para o enigmático sorriso as gôndolas de carne se mantinham exatas. Perguntei-lhe algumas trivialidades comuns para sua idade, e de súbito deparei-me com o sinônimo da palavra alegria, tão perseguido por mim ao longo dos anos. Era o ponto de fuga daquela menina, o qual levara-lhe direto para sua afirmação enquanto ser humano (para além do biológico), de modo simples e sem escalas no sentimento de pena que lhe cercara.
Mostrou suas feridas como de costume, falamos de um hospital escola de fato. Contudo, cada instante da sua vida carregava extrema preciosidade. A patologia que lhe atormentava é deveras cruel encaminhando-a para onde não se tem volta. Minha indignação parte do momento em que as mesmas pessoas que defendem a vida, roubam-lhe de modo frio, hipócrita e descarado. Seria em nome da ciência? Numa injusta herança do holocausto nazista... Não! Nem para isso! Era meramente para um grupo de estudantes universitários diagnosticarem o que os profissionais e estagiários sabiam decorado. Tudo isso para nós sairmos do paraíso bibliográfico e despencarmos por alguns minutos no sentimento traiçoeiro da pena, como se fossemos melhores, abençoados e detentores do conhecimento.
Fomos embora imbuídos apenas da responsabilidade com cálculos e textos para semana seguinte. Na despedida, duas vozes: - Trate de ficar boa logo! Em nome da educação? Em nome da caridade? Em nome da bondade? Não sei. Não é culpa das vozes, mas das discrepâncias históricas naturalizadas pela área da saúde. Todavia, a desnutrida, caquética, com uma fistula e uma colostomia devido ao câncer, não escolhera esse caminho. Não escolhera despertar mal estar, pena ou frieza, muito menos não ser dona do tempo.
Paro com a discrição de minhas indignações para me dedicar às escolhas dela. Com a bravura de quem enfrenta generais, burla as normas burguesas, ela empunha a espada contra todos os distúrbios em seu corpo. Ela quer comer, quer ler, quer sorrir e ir para casa. Ela vai. Não como quem faz isso todos os dias de modo automático na monocromática banalização da vida. Ela vai, pois persiste em desbravar o desconhecido, não por ausência da dor. Suas garras procuram defender a parte da vida que lhe é de direito e que ninguém pode nem poderá isentá-la. Seria como as palavras de João Cabral de Melo Neto “O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte”. E por todas essas características somadas a sua idade, a descoberta da adoção no período da doença, afirmo sem pensar duas vezes que aqueles olhos gozam da fortaleza que eu almejo ter ao menos por alguns instantes antes de minha morte.
E assim, sem a necessidade desenfreada e frustrante de ser feliz ela vive cada instante. Ontem fui vê-la sozinha. Não para dar força, mas para aprender e carregar aquele olhar tornando minha vida menos idiota. Pensei que ela precisaria de muita vida e em pouco tempo, o que de melhor consegui pensar foi no meu livro. Poemas tão clichês e rimas tão sem graça que hoje me nego a ler. Contudo era minha vida dos 12 aos 17 anos. Uma outra vida para deleite daqueles olhos. O rosto dela se preencheu de satisfação, como se aquelas palavras precisassem ser bebidas com voracidade. Gentilmente ela me pergunta se eu tenho caneta para fazer a dedicatória, eu inebriada de admiração fiz. Durante a conversa eu me perdia nas palavras, meio sem graça e com um sorriso insistente nos lábios (não poderia ser de outra forma diante das cores sem nome daquele olhar). Era eu quem bebia daquela fonte profunda de vida e luta.
Falaram-me que eu me envolvo demais. Não me importo, não admiro máquinas. Meu emocional não está confuso pela morte inevitável dela, já que isso faz parte da vida. Entrei em êxtase pela pessoa especial que eu tive a felicidade de encontrar e desenvolver minimamente potencialidades humanas riquíssimas. Agora, sinto a fúria dos que gozam da vida sem questionar o que fazem dela.

Talita Kumy Goes Silva


Os Três Mal-Amados
João Cabral de Melo Neto

Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.


"Risos revolucionários em cada canto dos lábios"

Intervenção Poética

Velhas Janelas

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O ventre da maturidade




















Meus dias são de parto.
Saio das entranhas de minha cama,
atribuições do dia a dia
estranho corte umbilical
arrancado-me pra vida.
A porta de casa me pari
e ainda tenho que levar o lixo,
a placenta pra fora,
antes de suturar a fechadura.
Não choro,
e os especialistas insistem.
É tapa em cima de tapa,
o teste dos pulmões
mas se não choro ou não grito
vejam que não quero sair de mim.

Por Mandarina

Sobre Cartola

Ele e Ela escutam...
Amor Proibido
Cartola

Composição: Cartola
Sabes que vou partir
Com os olhos rasos d'água
E o coração ferido

Quando lembrar de ti
Me lembrarei também
Deste amor proibido

Fácil demais
Fui presa
Servi de pasto
Em tua mesa
Mas fique certa que jamais
Terás o meu amor
Porque não tens pudor

Faço tudo para evitar o mal
Sou pelo mal perseguido
Só o que faltava era esta
Fui trair meu grande amigo
Mas vou limpar a mente
Sei que errei
Errei inocente

Sabes que vou partir
Com os olhos rasos d'água
E o coração ferido
Quando lembrar de ti
Me lembrarei também
Deste amor proibido

Fácil demais
Fui presa
Servi de pasto
Em tua mesa
Mas fique certa que jamais
Terás o meu amor
Porque não tens pudor

Ele diz:

é? nem prestei atenção

Ele diz:

tava fazendo outra coisa

Ele diz:

prefiro as rosas não falam

Stardust... diz:

clichê

Ele diz:

isso não desmerece a música

Ele diz:

se canção da saudade fosse unanimidade, clichê, seria menos ruim?

Ele diz:

taí uma crítica ad hominem q eu acho no mínimo sem fundamento

Stardust... diz:

não demerece, masssss cartola foi bem mais profundo que "As rosas não falam"

Ele diz:

deve ter sido

Ele diz:

tão profundo quanto insondável

Stardust... diz:

O inverno do meu tempo é uma música lindaaaaa

Ele diz:

mas recolhe-me à minha condição de um ouvinte ordinário

Stardust... diz:

Ai! se eu tivesse autonomia...

Stardust... diz:

rsrsrsrsrsrsrsr

Ele diz:

fico aqui no alvorada, mundo em moinho, preciso ir, enfim, nos meus clichês =)

Stardust... diz:

já se vai?

Stardust... diz:

como areia por entre os dedos ou o sol que não se alcança?

Ele diz:

isso é clichê

Stardust... diz:

já se vai como se o castigo fosse o mal derradeiro

Stardust... diz:

que me fará viver de ausência, morrer de falta, renascer por algum movimento parido por ti...

Stardust... diz:

já se vai, zombando de meus clichês, driblando minhas palavras, vinagre para minha sede

Ele diz:

putz...

Stardust... diz:

então não demores! Podes partir, sei que não é necessária minha permissão, mas por mim...

Stardust... diz:

é de tua partida que vivo

Ele diz:

é, por aí

Stardust... diz:

por aí que adentro então

Stardust... diz:

e ao passo que me ponho mais forte, me superando e rendendo as dificuldades da vida

Stardust... diz:

tenho-te como amigo imaginário

Stardust... diz:

em silêncio pergunto o que farias no meu lugar

Stardust... diz:

assim percorro as pedras em todo o caminho

Stardust... diz:

me esqueço dos fatos

Stardust... diz:

de vez em nunca te vejo real e ocupado

Stardust... diz:

teu hálito percorre as lembranças, teu silêncio meus pesares

Ele diz:

olha, vou saindo

Ele diz:

boa noite

Ele diz:

=)

Ele diz:

se cuida

Stardust... diz:

me cUidar?

Stardust... diz:

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Stardust... diz:

ok ok boa noite, bons sonhos, bons pensamentos...

Stardust... diz:
boa viagem






silêncio



... e quem saber sonhar os teus sonhos por fim...


silêncio



... e quem saber sonhar os teus sonhos por fim...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A vida é dura pois somos moles!

Estou em processo de endurecimento, rsrsrsrrs

Preciso esquecer de Madarina, afinal ela não existe. Aliás, ela só existe para suprir meus desejos reprimidos. Ela é mais forte, mais inteligente, mais bonita que eu e mesmo assim sempre se lasca. É melhor trata-la como se não existisse.
Olhando os blogs de uns conhecidos me veio a vontade de escrever. Eles só possuem 3 tipos de blog: o político (enormes e que me dão preguiça de ler, afinal blog é uma diversão, se eu quiser ver política abro o jornal do P. ou um livro), o sarcástico (esse é o mais legal, mas eu não tenho tanto senso de humor para criar um semelhante), o poético ou cronista (que mostra as paranóias do povo, e eu tô cansada de mostrar as minhas).
Meu blog é um tanto adolescente. Meio que eu diário disfarçado. Sem compromisso com estética ou algo do tipo. Agora quero contar fatos históricos de modo um tanto peculiar....
Espero que alguém leia um dia...
Abraços virtuais.

terça-feira, 17 de março de 2009

E quem disse que a história não se repete....

Em um tom clichê refazendo planos, extraindo o filete de sangue por entre os dentes. Vivendo na solidão. Sem procurar respostas, muito menos perguntas. Lá vai Mandarina, todo o seu amor perdido e calado, mais uma vez entranhado no peito, como qualquer rima vulgar. Lá vai Mandarina, que brincou de se entregar. A mulher de ir, se detém em ficar. Quis morrer de ciúmes, quase enlouquece. Mas depois como é de costume obedece. Quem precisar reve-la, já vai encontrá-la refeita, pode crer. Olhos nos olhos vamos cer o que Rufião irá fazer quando ver que ela é sem ele, ela passa bem demais... Por hora se entrega a crise política da esquerda, e organiza-se para responder a altura uma das piores crises da história do capitalismo. Mais ainda assim, ecoa ao fundo...

Medo de amar

Vinicius de Moraes

Composição: Vinicius de Moraes

Vire essa folha do livro e se esqueça de mim
Finja que o amor acabou e se esqueça de mim
Você não compreendeu que o ciúme é um mal de raiz
E que ter medo de amar não faz ninguém feliz

Agora vá sua vida como você quer
Porém, não se surpreenda se uma outra mulher
Nascer de mim, como do deserto uma flor
E compreender que o ciúme é o perfume do amor