domingo, 16 de novembro de 2008

O mundo é um moinho...

Apesar de gostar há tempos da música do Cartola, ela nunca esteve tão perto de mim quanto agora. Ainda é tão cedo pra conhecer a vida e eu parto sem rastros para dentro de mim de tão resolvida que estou. Minhas ilusões se resumiram a pó, num abismo que cavei com os pés calejados de insegurança.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Mandarina e Heitor... conjunções aditivas e adversativas...

Mandarina já entendia de revolução. Não como as pessoas que conhecera, mas de um modo particular e coletivo. Cotidianamente lutara contra a mercantilização dos sentimentos, contra o neoliberalismo, contra suas próprias contradições. Moça de pensamento estratégico peculiar. Caíra e levantara-se muito até chegar à plenitude, e assim entender que os prazeres da vida envolvem relações humanas de todos os níveis. Passou pela fase do amor romântico e até pelo arcadismo, chegara à fase da liberdade, esta por sua vez limitada pelo mundo depredado por uma ideologia nefasta alicerçada na realidade concreta da exploração do homem pelo homem. Cometera todos os equívocos de quem tem fome voraz da vida e do outro. Todavia, não desistira de seus anseios. Seu olhar oscilara entre languidez e fortaleza, suas palavras eram o que mais lhe aproximara do humano. Isso é o bastante para que possamos entender Mandarina, inclusive porque seus segredos guardam inexorável indiscrição entre história e a nudez de sua alma.A noite sempre traz surpresas, medos, histórias, dores de cabeça e risos. Ela não conseguira enxergar isso. Foi numa noite monocromática como de costume que avistara o que mais tarde seria seu abrigo e abismo: Heitor. A sede que ele demonstrara sobre as potencialidades da moça foi o que seduzira a pequena. Falavam-se todos os dias. Não por obrigação ou bons modos, apenas por afinidade. Sentimento este até então nunca degustado por Mandarina, ao menos não daquela forma. Seus diálogos podem ser sintetizados pelas palavras “descobrimento mútuo”. Iniciara-se a história de dias muito vermelho, amarelo, azul e branco. A força repartida incitou nela poderes artísticos descomunais. Sentimentalidades brotaram-lhe e aboletaram-se em seu peito calejado. Em poucos dias crescera um bem querer puro do tamanho da distância geográfica que separava Heitor de Mandarina. Espanha e Itália nunca foram tão próximas nem tão separadas. Não lhes importara.Heitor era um operário simples que guardara amor apenas por seus ideais, amigos e guitarra. Tem uma trajetória complexa, tanto em seus amores quanto nas suas escolhas. Não conseguira mais amar, não conseguira mais perder o juízo nem se render às paixões. Muito diferente de Mandarina, que tinha como principal defeito a passionalidade sendo sempre presente ou distante, quente ou fria, odiara o morno. Ele satisfazia seus desejos corpóreos sem que lhe tocassem a alma, era uma ilha deveras. É muito difícil morar numa ilha, fácil seria fazer passeios turísticos repletos de diversão e com passagem de volta programada. Simples é ser uma ilha. Mostrar seus encantos e belezas, proporcionar luais e devaneios. Contudo, há sempre alguém que questiona o acesso à ilha e o sistema que lhe mantém. Metaforicamente a história foi sintetizada. Mas analisemos mais detalhadamente o que acontecera com nossos personagens.Rompantes de loucura são apenas rompantes. Não para os dois. Eles planejaram uma deliciosa insanidade que muitos de nós não teríamos coragem ou audácia. Em mais uma madrugada acordaram burlar as condições materiais de não ter dinheiro ou tempo para concretizar um desejo mútuo. Contudo, apenas Mandarina cumprira o acordo. Heitor, repito, amara apenas seus ideais amigos e guitarra. Mesmo assim ela revirou o mundo e seus amigos para voar até seu desejo...“Os livros na estante já não têm mais tanta importância, do muito que eu li do pouco que sei nada me resta, a não ser a vontade de te encontrar, o motivo eu já nem sei, nem que seja só para estar ao seu lado, só pra ler no seu rosto uma mensagem de amor...”Ele não lhe dera atenção, e a carência de Mandarina não deixara que ela vislumbrasse a situação. Carência é mesmo assim, torna migalhas em banquetes.Assim que as asas proporcionadas por ele fizeram-na desembarcar em Madri, seu sistema nervoso funcionara ativamente. Ela o esperou, pois ele trabalhara. Na realidade ela compreendia tudo como uma delicada forma de calor. Miraram-se, abraçaram-se e já não havia mais chão. Na mesma tarde se beijaram e se amaram, uma entrega total de Mandarina, um orgasmo para Heitor. Uma menina, uma moça, uma mulher perdida numa ilha. Uma ilha de prazeres carnais. Sons de guitarra e a voz dela era o que se escutara, em seguida seus risos e gemidos. Perdidamente apaixonada. Patrimonialmente protegido. Sinceramente declarada. Silenciosamente despido e vestido.Foram sete dias de convívio. O primeiro de alucinações e medos do envolvimento. O segundo de silêncio e lágrimas. O terceiro de lágrimas e silêncio. O restante? Angústia. Fórmula carregada de desejo sexual e música. Até chegar o último dia. Mandaria já conseguira entender que perderia o afeto que jamais tivera. Embriagara-se. Ele a vê neste estado e pouco se importa. Talvez o mais importante fosse que ela iria embora e ele teria sua vida, seu quarto e suas manias de volta. Ela retorna a sua cidade sem asas, sem sentimento, sem carinho e imersa no mais profundo desalento.Regressara para o trágico costume de fumar uma carteira de cigarro por dia, contudo o que mais lhe doía era a indiferença de Heitor. Era o reconhecimento da sua fraqueza com o tabaco e com os homens. Veio a vontade de escrever um ultimo bilhete, uma ultima prece ou sentença:“Preciso sumir da sua vida, mas parte de mim não deixa. Parte de mim te espiona e mantém vivo algo que só eu cultivo. Não foram anos nem décadas, foram dias. Desculpa por ter me apaixonado, desculpa por não saber a hora de sair, desculpa por não ter me calado na hora certa, nem gritado da forma que deveria, me desculpa por não ser teu porto seguro, por não ter segurado meus sentimentos e desejos, por ter virado mais um sexo banal, desculpa por não saber jogar teu jogo nem te envolver, desculpa por não mudar sua alimentação, desculpa por querer compartilhar todos os aspectos da sua vida e deixar meu vegetarianismo, desculpa por não querer saber de seus horários e sentir sua falta, desculpa por te imaginar aproveitando os últimos minutos ao meu lado, desculpa por te encher a paciência, desculpa por não levar tudo isso na brincadeira, desculpa por te espionar, desculpa por escrever e desenhar minha história que passa pela tua, desculpa por não te provocar mais curiosidade, desculpa por desistir de você, desculpa por sair da tua vida e principalmente pelo sal das lágrimas que deixei em teus lençóis.”Nunca enviou tais palavras.Vozes ecoavam dentro de Mandarina, elas a chamavam de “prostituta de luxo”, de “vegetariana por moda”, de “intensa insanidade”. Seguiram-se dias muito negros. Aos poucos acertara sua vida e reafirmara-se enquanto vegetariana, mulher e guerreira. Seu passatempo voltou a ser o estudo, seus risos fluíam por seus amigos, e as conversas com Heitor não faziam parte de seus dias. Sua companhia fiel era a fumaça. Desta queda não criara verdades como “nunca mais confiarei em ninguém” ou promessas de vingança, ela apenas respirava e cumpria suas responsabilidades. Deixou de espiá-lo ao passo que deixou de escrever seus sentimentos.

Enquanto isso Heitor e os traços de carinho que lhe restaram escutavam...

"...Não fui eu nem Deus não foi você nem foi ninguémTudo o que se ganha nessa vida é pra perderTem que acontecerTem que ser assimNada permanece inalterado até o fimSe ninguém tem culpa não se tem condenaçãoSe o que ficou do grande amor é solidãoSe um vai perder outro vai ganharÉ assim que eu vejo a vida e ninguém vai mudarEu daria tudoPra não ver você cansadaPra não ver você caladaPra não ver você chateadaCara de desesperadaMas não posso fazer nadaNão sou Deus nem sou SenhorEu daria tudoPra não ver você chumbadaPra não ver você baleadaPra não ver você arreadaA mulher abandonadaMas não posso fazer nadaEu sou um compositor popularEu daria tudoPra não ver você zangadaPra não ver você cansadaPra não ver você chateadaCara de desesperadaMas não posso fazer nadaNão sou Deus nem sou SenhorEu daria tudoPra não ver você chumbadaPra não ver você baleadaPra não ver você arreadaA mulher abandonadaMas não posso fazer nadaSou só um compositor popular..."

Era sua forma atéia de rezar pela expiação dos pecados de roubar a sentimentalidade da pequena. E com a mesma duração de um cigarro de Mandarina, Heitor conhece outras mulheres, procura nelas o que não mais consegue encontrar em si mesmo: beleza.
Duas dores distintas, ele lutando para não se mecanizar por completo, ela guerreando contra sua própria arte.



Mandarina descobre outros caminhos para sua solidão

Já conhecemos as cores, ou melhor a cor atual desta história. Seguiremos conhecendo os cheiros. Ao acordar Mandarina, dia após dia repete o mesmo gesto que deixa a casa emanada do odor de café, toma seu banho cítrico e derrama sobre si um perfume de bebê (inconscientemente com a esperança que o cheiro terno traga a inocência de seus sonhos de volta). Ao sair de casa a fumaça invade as entranhas dela, provocando nojo e desprezo por si mesma. O melhor de seus dias eram as noites. Depois do ritual do banho, escondida de seu próprio lado consciente vai até sua caixa de óleos de massagem, lá deleita-se do seu vício mais vil. Lá estava o óleo outrora derramado na pele de Heitor. Era o óleo do ritual que ela fazia para acorda-lo, era o óleo que precedia o amor entre dois pagãos.
Ela vence a guerra interna em sucessivas batalhas. Sem fazer poemas, sem desenhos ou pinturas, sem arte. Ela guardara apenas o que lhe era útil, o olhar para relações mais humanas. Admirava quadros como ninguém, sem precisar confundir seu próprio cinza com as cores expressadas. Nos primeiros dias conheceu um rapaz, e deliberou para si mesma que através deste esqueceria Heitor. O nome da vítima de Mandaria era Francesco.
Não é possível saber muito sobre Francesco, já que ele falava apenas o necessário, inclusive sobre sua própria forma de organização (anarquista). Um homem alto e fisicamente mais atraente que Heitor, gostava relativamente de música, amava histórias em quadrinhos e foi isso que o aproximou dela. Num dado esforço para suprir a falta de quem lhe despertou vulcões femininos, Mandarina vai para cama com Francesco. Tentou até o último instante dizer que era dele sua alma, seu gozo, seu amor. Tudo isso serviu para o crescimento de um descrédito por seus sentimentos, findando a última batalha sentimental. Outros se interessaram por Mandarina, mas o tempo da pequena, aliás agora guerreira, estava preenchido pela paixão que lhe tira o sono: a revolução.
Essa parte ainda não foi mencionada, e sem dúvidas pode não ser a parte mais inebriante, mas é aquela que vai transformar a vida de nossa personagem. Dois grandes legados foram deixados na vida dela por Heitor. O primeiro é a superação do seu passado com a resignificação daquilo que ela entendia por sexo. O segundo foi a possibilidade de se organizar internacionalmente para derrubada daquilo que lhe deprimia incessantemente a cada dia: o capitalismo. Mandarina tornara-se trotskista da quarta internacional. Pra quem adorava a guerra civil espanhola e se dizia anarquista, foi um salto na sua compreensão política.
Atos, jornais, discussões, mobilizações, balanços negativos, balanços positivos, horários, cota, fábrica, Marx, Engels, Rosa, Clara, Lênin, Trotsky... responsabilidades belas e cansativas.
Mas e Heitor? Onde está nosso operário?
Lá estava ele cultuando os mortos, discutindo com os vivos. Envolvido nas suas sombras transparentes ao seu próprio olhar. Não era tristeza que lhe passava pela cabeça, e sim o vazio. Era um tremendo estanque que constrói estradas e não anda. Repetiu o mesmo erro com outras mulheres, quando conheceu uma menina. Solphie era a ternura, a virgindade, a doçura perdida na adolescência de Heitor. Tal moça lembra os olhos moles de uma revolucionária brasileira chamada Pagu. Despertava desejo e loucura por onde passava e assim não deixou de ser com Heitor. Ele não descansou até ter o objeto que o levaria de volta à paixão, ou melhor, ao amor verdadeiro. Volta e meia recebia cartas de Mandarina, mas nem chegava a abrir, afinal a sua grande obsessão era Solphie e necessitava de todo o tempo do mundo para organizar o partido e a conquista do coração da mocinha. Solphie o encarava como um príncipe encantado do proletariado, tão logo estava presa nas suas entranhas e não mais relutou. A primeira vez dela foi conduzida pelo guardião dos segredos da perfeição. A felicidade dos dois resultaram no silencio que atordoava Mandarina. Tempos depois Heitor vê que não tem mais 17 anos, cansa de ficar à mercê da vontade dos pais de Solphie, cansa de não poder conversar sobre tudo que tange a vida operária, cansa de apaixonar-se adolescentemente. (continua)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Um tanto quanto... adstringente

Dá trabalho se apaixonar pelas pessoas... Demanda tempo de ler blog, tempo de ver foto, tempo de conversar besteiras, tempo de conversar coisas sérias, tempo pra sentir ciúmes, tempo pra notar que tem ciúmes, tempo pra superar o ciúmes, tempo pra discutir a relação, tempo pra agradar por quem você se apaixonou, tempo pra brigar, blá blá blá
E por que peste eu quero viver tudo isso?
Seria bem melhor ler, tão mais prático... Nos livros as pessoas vivem por nós e enveredam por altas tramas e a gente não disperdiça tempo com isso na vida real.

A vida real é um saco, é a única que eu tenho e não muda de canal jamais...

Tudo isso dá trabalho e eu me dei ao luxo de ter pregüiça e ler o livro....

terça-feira, 6 de maio de 2008

Sem canção, sem seu nome, não sei mais nada...

Canção Sem Seu Nome
(Adriana Calcanhoto)
Eu vi você atravessar a rua
Molhando a sombra na água
Eu vi você parar a lagoa
Parada
Você atravessou a rua
Na direção oposta
Pisando nas poças
Pisando na lua
E a poesia ali me deu as costas
E pra que palavras
Se eu não sei usá-las
Cadê a palavra que traga você daquela calçada
Você atravessou a rua
Na direção contrária
E a poesia que meu olho molhava ali
Quem sabe não me caiba
Quem saiba seja sua
Ali atravessando a chuva
Toda lagoa parada
Você na direção errada
E eu na sua
Como fruta do conde
Um rio correndo pra foz
É como se a correnteza
Fosse parada
E tudo, mais tudo, mais tudo,
Fosse igual a nada



A parte final ele me fez entender muito bem... e tudo, mais tudo, mais tudo é realmente igual a nada....

enquanto ele quer explodir as grades e voar...

Asas
(Adriana Calcanhoto e Antonio Cícero)
Suas asas
Amor
Quem deu fui eu
Para ver Você conquistar o céu
Observe tudo embaixo
Ser menor do que você
Como tudo é,
E enquanto arde a coragem
Dos desejos seus,
Sem véus (Proteus)
Abra seus poros e papilas e pupilas
À luz da manhã
E muito acima de Ipanema
Tão pequena tão vã
Viva o prazer
O som
O estrondo de uma onda
Na arrebentação
Enquanto eu piro à sua espera
Na esfera do chão


Agora eu também quero explodir as grades e voar, e fica terminantemente proibido dar asas e recebe-las...

in memorian...

Caminhada

Ela: Do que as loucuras são feitas?
Ele: Vontade?
Ela: É preciso mais...
Ele: Risco?
Ela: Não só...
Ele: Irresponsabilidade?
Ela: Também...
Contudo há não sei o que,
Que emerge e nos submerge,
Num afogamento dos sentidos,
Que não se mensura,
Que se aboleta e fim...
Não sei o que,
Que conspira por dois mundos,
E nos tira o sono,
Que nos apaga o passado,
Como se cada passo desconhecesse as horas,
Numa corda bamba, caminho (s)...

Algo de novo

Minha espera não dói,
Ela me consome...
O novo sempre entontece
Mas o velho já não é confortável.
Viestes...
Olhos de procura,
Minha espera cessa quando lhe acho,
Ossos e nervos trêmulos, breve abraço...
Calma...
Olhos de desejo,
Beijos concretos,
Poesia em temperatura humana...
De que serviram meus poemas
Se eles não sabem beijar?
Se eles ficam frios e mortos
Numa folha qualquer?
Não sei, apenas escrevo.

Calma

Silêncio...
Dança dos lábios,
Entrelace de pernas,
Música rápida e lenta,
Pele.
Pescoço, nuca, orelha,
Mãos, cabelos, passos...
Espasmo.
Silêncio e sono.
Dúvidas.
Mais silêncio,
Ensurdecedor e interminável,
Será que sou eu?
Será que é você?
Ou o molho doce do macarrão?
Incertezas de solo desconhecido...
Mistérios pelo teu carinho regados.

Respostas

Tua brutalidade,
Impaciência e inércia
Não me agradam,
Mas nada há de pior
Que o teu silencio.
Nada pior do que poesia
Sem alicerces,
Do que imaginar teus pensamentos
E de suspeitar que nenhum deles,
Nenhum é endereçado a mim.
As notas do teu violão são sinuosas,
Deslizam em curvas e beira meus precipícios.
Odiosas notas que me aproximam,
E que perigosamente envolvem até o desatino.
Marx outrora avisara de meu patético fim,
Mas a conjuntura me ludibriou,
Em mais erros anárquicos...

Tempo

O mais clichê dos assuntos,
O mais indecifrável mistério.
Criança, rotina de acordar, dormi, comer, brincar...
Adolescente, o desafio da transposição das horas...
Adulto, trabalho, sexo, responsabilidades...
Poeta? Sem tempo, sem relógio, sem horas!
Sua casa é o céu noturno ou a luz diurna,
Seu alimento é a corrosão dos sentimentos,
Seu sono emenda-se no despertar,
Seu passeio é vagar sem pressa ou acelerado,
Seu trabalho é vadiar para retratar vida,
Sua luxúria é carne, palavras e danças...
Responsabilidade?
Ser o mais vil dos humanos.




Ousar, voar, despencar... “finitivo”

As janelas são confortáveis
Horas abertas, horas fechadas
Taciturno modo de existir
Por serem apenas estáveis.
Modernidade,
Janelas sobem e descem...
Mascarando solidões.
Pulei os quadrados, criei asas
Não há outro lado,
Elas eram de algodão,
Então despenco!
Corpo vazio despedaça...
Ele não está mais aqui,
Nem em qualquer janela,
Nem em qualquer caminho,
Fora pra montanha mais alta?
Geleiras? Minhas telas?

Ar

Esteio, muleta, cigarro
Anseio esquecimento
Apoio - me nas tristezas da vida.
Perdi as rimas,
Perdi o gosto,
Você? Não.
Não és brinquedo, nem ouro
Raro vício meu...
Tento me esquivar
Não te provoco riso nem raiva,
Trevas clichês emergem
Sem que notes definho...
Estais em teu trono,
Reino do silencio imperando sobre mim,
Explorando textos de teu grado,
Minhas palavras não te interessam,
Minhas canções são erradas,
Nem minha fumaça te incomoda.
Sufoco-me.

Fogo de pedra

Extraindo de nós o instante mais belo, cada milimetro da minha pele sente saudade... É aquela falta do escambo de minhas massagens pelas tuas caricias, é aquela sede de teu paladar junto ao meu, é aquela fome da tua nuca, é aquela ausência do teu cheiro seco e único, é aquele silêncio que lembra tuas perguntas preocupadas de minha satisfação, é aquele imobilismo de não poder pedir mais e mais...

Cara pedra minha,
sei o que és,
sei como és,
onde ficas,
só que continuas sendo pedra,
te atiro para longe
como louca, como idiota
Só pra depois sentir falta,
e no horizonte vejo-te,
crescida,
agora és montanha.
Parada!

"e a montanha insiste em ficar lá, para lá, parada..."

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A traição de meu corpo

Dói meu útero
em lembrança amarga do que sou.
Mensalmente me degrado em sangue
chego a perder o que construo por vida.
Vai! Amarra minhas pernas
enfraquece e aprisiona meus passos.
Libera o oscilante,
engana,
me faz bela
depois retira com tal crueldade a beleza.
De que me adianta seios fartos,
ancas largas e hormônios?
Só preciso de meu cérebro,
quero dirigir meu corpo e sentimentos.

Devaneios

Isolar

Iso não seria "o mesmo"? Isótopos, isóbaros, isótonos... Ou seja, isolar poderia ser "o mesmo lar"....


Canto por não viver-te,
pois se tua presença acontecesse
não iria musicar meu pranto.
Escrevo por não tocar
há uma insipidez nos outros corpos
e um certo paradoxo:
Não é mais de ti que desejo me fartar.
De todos os desenhos em meu quarto,
não teria saudades, nem apreço
se tua carne se fisesse tela ao meu comando
estasiava-me tuas cores até a fome
e ali degustava, palmo a palmo,
teu corpo-carne envenenado.
Tudo é por tua falta,
é preciso romper com este velho lar.
Tento... Rasgo rimas, grito e rabisco!
Em círculos retorno ao conforto
grande feudo de sentimentalidades,
isolar...

Após acordar de um sono tardio e estúpido, se tal teoria fosse verdadeira haveria um acento agudo em "isolar", e um grave auto-flagelo em meus dias.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Intervalos de sensações

De qual dor falas?
Qual caminho encontras?
E que olhar não pesa como granito?
E por todas as perguntas que faço
passo da proibição ao aprendizado...
Por não chorar é que minha alma chove
,cada dia o mesmo trabalho de secar o chão de meus continentes,
e nas noites me perco, sem lembranças.
De tanto fincar minhas garras na coragem esqueço do medo,
e continua meu sorriso que só se abre com orvalho...
Já não luto por minha própria sede,
e me abandono para ver nascer outro dia
deixei rastro de rimas absurdas e obsoletas
hoje respondo teus retalhos com adistringencia massiva

Redescobrir

Como se fora brincadeira de roda, memórias
Jogo do trabalho na dança das mãos, macias
O suor dos corpos na canção da vida, história
O suor da vida no calor de irmãos, magia
Como um animal que sabe da floresta, perigosa
Redescobrir o sal que está na própria pele, macia
Redescobrir o gosto do lamber das línguas, macias
Redescobrir o gosto e o calor da festa, magia
Vai o bicho homem fruto da semente, memória
Entender que tudo isso é nosso, sempre esteve entre nós, história
Somos a semente, ato, mente e voz, magia
Não tenha medo, meu menino bobo, memória
Tudo pricipia na própria pessoa, beleza
Vai como criança que não teme o tempo, mistério
Amor se fazer é tão prazer que é como se fosse dor, magia
Como se fora brincadeira de roda, memória
Jogo do trabalho na dança das mãos, macias
O suor dos corpos na canção da vida, história

Gonzaguinha

Arroz com feijão, futuras rimas idiotas e apresentação...

Quis escrever pra ser bonito, diferente, inovador. Alguma coisa assim que chamasse atenção dos meus amigos poetas de verdade, ou ao menos que provocasse algum tipo de sentimento para além do "bonitinho". O fato é que eu não consigo. As pessoas são tão perdidas em si mesmas que não vão se perder em pessoinhas sem sal nem açúcar como eu. Longe de ser um blog emo de lamúrias, minhas pretenções se resumem em não deixar morrer algo que sempre gostei: o convívio com as palavras. Se fora brincadeira de roda, hoje como todos os trabalhadores me encontro na dança da vida.